"Porque quando alguém te ama, a forma de falar seu nome é diferente!" - Billy, 4 anos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Bem,

na verdade, acho que sinto saudade da época em que ser feliz consistia apenas em ter uma bala na boca, um brinquedo nas mãos. Da época em que nada fazia sentido e eu não estava nem aí. Dos tempos em que eu não sabia de nada, e por isso não sofria por nada. Tenho saudade dos tempos em que não precisava da sua interferência em minha vida, que eu não sabia que você existia e estava tudo bem assim. Porque a minha vida era apenas ser feliz, e eu só precisava chorar de pirraça. Eu não fazia ideia do quanto a vida é complicada quando as pessoas crescem, não consigo entender porque complicam tudo. Naquela época feliz, em que você nem sonhava que eu existia, e eu não precisava de você para respirar, eu sorria feliz, e a felicidade era tão comum que eu não precisava devorá-la, como hoje. Naquela época qualquer coisa era motivo de de alegria, já que minha mente não era atormentada com medos, saudades, tristezas e sonhos que parecem irrealizáveis. Naquela época em que eu achava divertido acordar as sete para assistir Teletubs e Ursinhos carinhosos, e isso era tudo que eu precisava para ser feliz. Ia para a escola pedalando minha saudosa bicicletinha roxa, de rodas brancas e aro colorido, usava uniforme vermelho e tênis branco, entrava na salinha aconchegante com cadeiras pequenas e era recebida pela minha querida tia. Bebia um danoninho todas as manhãs e quando chegava ia brincar de uma coisa qualquer. E depois disso ia dormir, feliz, porque tinha vivido mais um dia comum de criança. Deitava na cama e pegava logo no sono, sonhando com besteiras que tinha pintado num papel cor-de-rosa durante a aula, e meu único plano para o dia seguinte era acordar às seis e quarenta, comer uma torrada e beber meu danone, para enfim assistir a maratona dos Ursinhos carinhosos. E eu sabia que se houvesse qualquer problema eles viriam lá do alto com seus carros nuvem, para me salvar de qualquer perigo. Eu ia dormir enrolada em um lençol com desenhos alegres para tão logo acordar e ser feliz novamente. Dormia com um sorriso sereno no rosto, porque não tinha nada para pensar antes de pegar no sono, senão nos carinhos que recebia durante o dia. Não tinha medos e nem preocupações. Ia visitar uns amigos de papai e mamãe nos fins de semana, e na segunda a semana se iniciava com as crianças sentadas em suas cadeiras baixinhas, cada uma com seu novo brinquedinho para mostrar, já que segunda era o Dia da novidade e meu mundinho era tão feliz que não me permitia pensar em futuro, ou em qualquer outra coisa que pudesse me causar qualquer tipo de medo. Durante a noite, se algo de ruim acontecesse com meus sonhos perfeitos, e eu tivesse um pesadelo, era só chamar pelo meu irmãozinho, que dormia na cama ao lado, e ele viria me salvar de qualquer mal. Eu não fazia ideia de que um dia minha pequena bolha iria se estourar, e de repente a felicidade que havia em torno de mim seria cada vez mais escassa, e eu teria que buscá-la fora de casa, porque o que havia lá dentro já não me bastava. De repente eu era grande demais para ir pedalando minha querida bicicletinha, que ficou esquecida na garagem, e eu fui percebendo, e sofrendo, a cada descoberta, porque percebia que o mundo era ruim, que Teletubs não era divertido e que os Ursinhos carinhosos não viriam me salvar porque carros de nuvem não existem. De repente descobri que não podia mais acordar as seis e quarenta porque meu dia era cansativo e eu precisaria devorar as poucas horas de sono que eu teria. A minha querida tia virou professora, e eu notava a intimidade entre nós desaparecer. Eu percebi que as pessoas não eram assim tão confiáveis, e que o mundo não era assim tão bom. Logo medos invadiram minha alma, e preocupações tomaram conta do meu ser. Mas isso era só o início, minha mente infantil não conseguia compreender as mudanças repentinas. Eu queria correr, e fugir, mas nem isso poderia fazer, sem me cansar rápido demais, perder meus pequenos pulmões, que nasceram debilitados. Sabia que se corresse tão fácil os problemas me alcançariam e eu estaria novamente em apuros. Queria gritar, mas meu irmãozinho cresceu e já não dormia na cama ao lado. E quando te conheci e conheci também a loucura do amor, e descobri que era possível chorar de saudade e passar a noite acordada sem pensar na hora de acordar, apenas olhando para uma mesma foto, na tentativa frustrada de encontrar a pessoa ali retratada. E quando te encontro, já esgotada, sem forças, quero que você me alimente, e me faça feliz, porque preciso devorar essa felicidade na esperança de que ela me sirva de estoque quando você estiver longe. Talvez aquele sorriso sereno não esteja mais na minha face enquanto eu durmo, e já não me lembro mais das coisas que sonho. Preciso buscar a felicidade longe de casa, a felicidade que há dentro já não me basta, não me é suficiente. Preciso de mais, e vou, pouco a pouco, drenando isso para dentro de mim, e termino cada dia. Às vezes feliz, porque sorri, te vi, ou encontrei pessoas especiais, que assim como você, por algum motivo trazem alegria para mim. Às vezes estou triste porque não posso mais voltar a morar em minha bolha. Meu uniforme agora é azul, e meu tênis é preto. Tenho que caminhar até o colégio, e ao entra na sala, há um professor e adolescentes problemáticos como eu. Agora como várias balas por dia, mas o açúcar não é suficiente para me manter alegre, tenho sonhos que parecem distantes, mas tenho que conter todos esses medos dentro de mim, na esperança de que um dia eles irão desaparecer, e não precisarei mais devorar a felicidade que tenho algumas vezes no mês, sim, eu preciso da tua ajuda, eu juro que desejo mudar, mas me sinto suja e incapaz, perdi minha inocência de criança e me deixei corromper pelo mundo cruel. Minha bolha se estourou e não posso mais voltar para lá, tenho que enfrentar tudo sozinha porque os Ursinhos carinhosos não virão me salvar. Vou ficar aqui, esperando você voltar, e enquanto não consigo ser alguém melhor, vou tentar aproveitar meus sorrisos sinceros, e sorrir sempre. Vou tentar estar com quem amo e prolongar cada momento feliz. Quando for adulta não quero ter a triste decepção de olhar atrás e ver que cada sorriso de minha adolescência não foi bem vivido, tenho medo de querer voltar e não poder mais. Daqui uns anos, meus sonhos estarão realizados e não precisarei ficar revivendo dolorosamente o passado. Então poderei guardar a minha tristeza e minha saudade em uma caixinha branca de madeira, revestida de lindos detalhes dourados, que abrirei eventualmente, quando a vida estiver monótona, chata e sem sentido. Talvez um dia a felicidade volte a ser algo comum, mas meu passado estará sempre presente nesses momentos, para que eu não me esqueça de vivê-la e aproveitá-la ao máximo, então nunca mais a tristeza tomará conta de mim, o medo não invadirá a minha alma e preocupações nunca mais tomaram conta do meu ser. Serei feliz, só feliz. Eternamente, você, eu e a minha caixinha branca, juntos poderemos ser felizes para sempre. E nisso nunca vou deixar de acreditar, não importa a idade que eu tenha.










Yes I'm even more happy, even with every obstacle, they make me painfully.


Yaasmin Azeveedo.

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